18 de out. de 2014

Um romance cristão como você nunca viu

        Sem forças pra viver, homem contrata alguém pra matá-lo, ele não saberá quando o matador fará o combinado, contudo, o encontro com seu executor, lhe mostrará que há vida após a morte, a morte da alma. Leia um romance cristão completo em 30 capítulos, disponíveis gratuitamente aqui neste blog.

17 de out. de 2014

Introdução

“Senhor, tem compaixão de mim, porque sou fraco; cura-me, Senhor, porque meus ossos estão abalados. Meu ser está muito perturbado; mas tu, Senhor, até quando? Volta-te, Senhor, e livra-me; salva-me por tua misericórdia. Pois na morte não há lembrança de ti; na sepultura, quem te dará louvor?” (Salmos 6.2-5).

A vida com Deus transforma-nos em músicos, caçadores de inspirações que nos levem a compor cânticos de louvor ao criador. Cada luta, cada dor, cada dúvida, é uma oportunidade para que adoremos a Deus por cada vitória, cada alegria, cada certeza que ele nos dá quando o buscamos. Então, pra que morrer? Eis a oração que o filho amado deve fazer, não o rebelde, mas aquele que sabe tocar o coração do pai com uma intenção sincera:
“Livra-me Senhor, não porque eu ache injusta tua disciplina, não porque eu ache-a desnecessária, muito menos porque eu considero tua atuação exagerada, não, meu Deus, eu confio em ti, aceito a tua vontade, acredito de todo o meu coração que o Senhor sabe o que faz, nos mínimos detalhes e em todo o tempo.
Mas meu Deus, eu peço que se possível o Senhor abrevie meu sofrimento, sofrimento causado por mim mesmo, por mais ninguém, eu admito, pela minha rebeldia, pelo meu egoísmo, pelas minhas vaidades, abrevie senão eu perecerei, e que vantagem tem para ti um morto?
Um morto não pode louvá-lo, não pode contemplar a beleza da tua santidade, a profundidade de tua sabedoria, e te adorar, já que outro motivo maior não existe para minha vida do que te adorar. Na adoração há vida, e eu, pequeno e pecador como sou, recebi de ti a mais precisa das ferramentas de adoração: a música.
A música, contudo, não são as notas musicais, o sincronismo de ritmos, as sonoridades de instrumentos e vozes, a música que mais te agrada é a alma limpa e totalmente focada em ti, alma-espelho da tua presença, que vivencia o céu dos céus, habitação da tua majestade, mesmo na limitação da existência encarnada.”
Um pedacinho de infinito é menos infinito que o todo? Esse é o privilégio que o Senhor concede aos salvos em Cristo, compor com ele, o Rei dos Reis, uma sinfonia única, universal, eterna, a mais excelsa de todas as canções, que soará pelos séculos dos séculos, cada homem funcionando como uma nota, um som, e todos perfeitamente harmonizados numa vida eterna.

Também ouvi todas as criaturas que estão no céu, na terra, debaixo da terra, no mar e tudo que neles existem, dizerem: Ao que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o domínio pelos séculos dos séculos!” (Apocalipse 5.13).

Todas as citações bíblicas usadas foram retiradas da
Bíblia versão Almeida Século XXI da Editora Vida Nova

José Osório de Souza, 16/06/13, Itu/SP

16 de out. de 2014

Capítulos

01 - All star azul                                                                           
02 - Breno                                                                                     
03 - Sábado de manhã                                                                
04 - Cano do revólver                                                               
05 - Invenção a três vozes                                                         
06 - Um anjo sobre aquele lugar                                              
07 - Não é fácil morrer                                                              
08 - Fazendo o balancete                                                           
09 - O preço de uma morte                                                       
10 - Caminhando entre os espíritos                                         
11 - Desejo calado                                                                   
12 - Solidão                                                                              
13 -  Matar ou morrer                                                               
14 - Vida após a morte                                                            
15 - Os loucos também tomam café                                        
16 - Trevas tão minhas                                                           
17 - De passado não se vive                                                       
18 - Andor                                                                                   
19 - Cientista e astronauta                                                        
20 - Vernissage                                                                          
21 - Conspiração                                                                       
22 - O beijo da morte                                                                 
23 - Black sabbath                                                                      
24 - O relógio e as fotos                                                             
25 - Sonhar é preciso                                                                  
26 - Paixão, amor e morte com miojo                                      
27 - Amigos e amantes                                                                
28 - “Raimundo, um café para Lázaro, por favor”               
29 - “Que queres que te faça?”                                                
30 - Uma razão pra viver

15 de out. de 2014

01 - All star azul


Luz sobre luz, nem dava para ver os olhos dela, foi só aos poucos que fui me acostumando, mas não era uma claridade que doía, era gostosa. Como num filme onde uma única câmera é usada e fica solta nas mãos do operador, inclinando-se, tremendo, acompanhando com liberdade e ligeireza os movimentos da atriz, assim eu via as imagens. A imagem, porque o rosto dela não saía de foco, a câmera, apaixonada por ela, tentava invadi-la, mas era ela quem invadia a câmera. Às vezes eu via só a boca, às vezes só um dos olhos, às vezes uma mexa de cabelo, ansiosamente eu procurava algo que fosse além dos flashes.
Cabelos curtos e castanhos escuros, lisos, olhos grandes, lábios grossos que nunca precisaram de batom, e um sorriso maroto que colocava em seu rosto um jeito de criança que não iria embora facilmente. Os anos passaram por ela, não muitos, sem que ela deixasse de querer brincar, sem que ela parasse de fazer graça. Agora eu já podia vê-la com mais nitidez, a luz da alma se acalmava e eu via a luz do céu, um sol forte de meio-dia, sol de setembro esquentando um resto de inverno, mas ela era assim, um raio forte de luz sobre icebergs de carne e osso. Sentada na grama, verde claro de natureza nova, ela despetalava uma rosa, fazendo roleta-russa com o bem me quer, mal me quer.
Ela levantou-se, calça jeans surrada e apertada sobre pernas finas e longas, all star azul de cano alto, como o da canção do Nando, camisa branca para fora da calça, solta sobre os ombros, com as mangas dobradas até os cotovelos. Não sei o que era mais limpo, o sol, sua camisa ou seus olhos. Então começou a andar, displicentemente, mas sempre sorrindo, eu a olhei de baixo para cima, ela parecia pisar nas nuvens, mas era somente sua cabeça que estava lá em cima, como sempre esteve, seus pés marcavam o chão. Continuou caminhando, eu a vi por trás, sua nuca, seus ombros, e lá na frente o mundo se acabou.
Deu-me medo, tudo ficou subitamente escuro, a grama verde e o céu azul deram lugar a uma metrópole onde o cinza era o que havia de mais dia. Por um momento ela olhou para trás e eu vi seu rosto apertando-se, o sorriso com o canto da boca se recolheu e ela se entristeceu, mas logo tornou a olhar para frente e caminhar.
À medida que caminhava o calor foi se dissipando, eu que a observava do olimpo, com todas as fraquezas e vaidades de um deus inventado, carregado de inveja e de desdém, comecei a sentir frio. Ela cruzou os braços e esfregou o braço esquerdo com a mão direita, ela também sentia frio, mas precisava seguir em frente.
Vi-me sendo elevado e agora eu a enxergava lá embaixo, dando os primeiros passos para dentro de um centro urbano, um lugar confuso e sujo, que me pareceu perigoso. Não havia Deus naquele lugar. Pode o criador abandonar assim o que criou? Pode um jardim transformar-se num lixão? Pode um ser humano, imagem do criador ver sua beleza distorcida numa caricatura demoníaca? Pode, o homem deixa que isso aconteça e Deus permite.
Agora ela passeava entre seres estranhos, monstros mitológicos, pés de rato, troncos de homem, cabeças de bode, morcegos com caras de mulheres velhas, cobras com rostos de belos e sinuosos jovens maquiados exageradamente, eles eram horríveis. Agitavam as mãos, emitiam sons amedrontadores, faziam caretas, mas não saíam do lugar, permaneciam encolhidos no chão como se uma força invisível os mantivesse amarrados. Muitos eu só enxergava partes do corpo, mas eles pareciam esforçar-se para manter uma forma corpórea já que os membros sumiam e apareciam, passando da forma monstruosa para algo que parecia um líquido pastoso. Quando se moviam eu conseguia ver os rostos que deixavam as trevas e se arriscavam nas sombras, aliás, sombras eram o máximo de luz que eles podiam suportar.
Os seres estavam em constante estado de tortura, apenas num instante de um êxtase sinistro eles conseguiam provar algum prazer, o prazer dos psicopatas cruéis e egoístas que destilam uma gota de satisfação diante do sofrimento inocente.
Eu senti o medo que ela sentia andando entre aquelas criaturas, mas o medo não a impedia de continuar, ela precisava estar lá, ela não tinha outra saída. Ela fazia isso há algum tempo, nunca deixou de se sentir amedrontada, mas sempre foi em frente. Na verdade ela provava um prazer torcido de experimentar aquela situação.
Para muitos, a única maneira de se esquecer da dor, mesmo que por um curto espaço de tempo, é sentindo uma dor maior. Mas que dor é maior que aquela que se sente por algo que não se vê? Que não se controla? Que não se sabe de onde vem? Ali, naquelas ruas, naquela noite sem fim, o medo podia ser visto, controlado, desviado, esse era melhor que o medo que ela carregava em seu coração. Mas se fosse perguntado a alguém que a conhecia, esse diria com toda a certeza que ela não tinha medo de nada. Talvez não ter medo signifique não experimentar a ausência dele, mas ter a capacidade de convencer os outros que o medo não existe. Ela fazia isso muito bem, com charme, com seu sorriso de canto de boca, com suas mãos nos bolsos, com os braços colados ao corpo, chutando alguma coisa com seu all star.
O caminho que a menina percorria levou-a a um lugar tenebroso, um lugar sem sombras, um reino de trevas totais, de alguma maneira eu podia ver o que acontecia lá. No centro daquela escuridão havia uma região azulada, um neon pouca coisa mais claro que o negro ao seu redor, uma treva diferente da própria treva, um local onde parecia que o mal tinha uma liberdade limitada para existir. Aquela região parecia ter vida própria, mas era diferente dos monstros pelos quais ela havia passado, começou a crescer em sua frente e foi subindo, subindo, algo começou a crescer, ganhar corpo até que alcançou altura próxima a quatro metros. A forma tinha pernas e braços, e no alto de seu corpo azul dois pontos vermelhos incandesceram-se, eram pequenas labaredas de um fogo frio, convergência de toda a maldade que existe no universo. A forma se pôs a falar com ela, eu não entendia o que era dito, nem via qualquer espécie de boca se movendo, mas sentia que o ser se comunicava com a menina.
A garota ficou parada por alguns instantes, ouvindo, então ela estendeu a mão direita aberta para o ser. Esse estendeu a sua mão e depositou sobre a mão da menina, e isso eu vi com clareza, três círculos dourados, parecendo-me moedas. A menina pegou as moedas, colocou em seu bolso, abaixou a cabeça, deu meia volta e voltou pelo mesmo caminho que veio. A coisa ficou por lá em pé, não diminuiu de tamanho, eu sentia em meus ossos o pavor que a garota sentia por dar as costas a uma coisa tão terrível, eu que olhava tudo prepotentemente de cima. Senti medo, mas achei que estava protegido.
Então o ser olhou para cima, esqueceu-se da garota e fitou seus pequenos e vermelhos olhos em mim. Fui então derrubado de minha cômoda posição, caí ao chão, no meio daquela cidade suja. Vi o ser se aproximar de mim, encolhido que eu estava, como os pequenos monstros do caminho, aqueles que eu desdenhei antes, vi o ser se encurvando sobre mim, como que querendo me abraçar. Faltava-me o ar, eu o puxava pelas narinas, mas meus pulmões não funcionavam o suficiente, entrava em meu corpo um ar viciado e morno com cheiro de parafina queimada e alho, enquanto eu via os pontos vermelhos chegando cada vez mais perto de mim.
 Mas nesse momento, tremendo de horror, vi à direita, vindo do mais alto do céu, dois pontos brancos, eles foram caindo e crescendo até que pousaram sobre os pontos vermelhos. Então houve uma explosão, silenciosa, e tudo, o ser, os monstros, a cidade, polvilharam-se em pequenos grãos que sumiram no ar. Ficou um céu azul lindo, e eu agora estava novamente elevado sobre as nuvens. Lá embaixo a menina caminhava, no meio da grama verde. Ela então parou, colocou a mão direita no bolso e tirou as três moedas de ouro. Ela olhou para os círculos dourados, virou-os para um lado, para o outro, e então olhou para cima, parece que ela me enxergava. Vi seu sorriso bobo e lindo brincando comigo, enquanto ela jogava, sem dar muita importância, as moedas ao chão.
Algo estranho aconteceu, o chão engoliu as moedas e sobre o lugar nasceram três flores. A menina então sentou-se no chão, arrancou uma das flores e se pôs a brincar com as pétalas. Ela estava diferente agora, não parecia aquela de vinte e poucos com rosto de quinze, era uma mulher madura, e no lugar da calça jeans e da camisa branca masculina, ela usava um vestido colorido, continuava com ela o sorriso maroto de canto de boca e o all star azul de cano alto.
Acordei daquele sonho me sentindo esquisito, havia uma euforia gostosa, mas reprimida, isso apertava meu coração. Eu sentia que algo bom poderia acontecer, contudo parecia que coisas ruins, pessoas ruins, sentimentos ruins, impediam aquilo. Na verdade eu tinha medo de felicidade, já a tinha desejado tanto e ela sempre se mostrava falsa. Eu não queria ter outra decepção, não suportaria isso, não tinha mais forças para construir algo, ver isso ruir e depois ter que continuar vivendo.

--------------------#--------------------

O Espírito Santo acompanha o homem por toda a vida, ele está sempre procurando uma oportunidade para mostrar que Deus existe, está próximo e quer ajudar. Todavia, antes de tomar uma decisão consciente ao lado de Deus, o homem caminha no escuro, não sabe para onde vai, não enxerga o mundo, as pessoas e a si mesmo com clareza. Nesse caminho cego ele tropeça, bate de frente com as coisas, se machuca e machuca os outros. Mas o Espírito Santo está sempre falando, chamando, revelando os tempos da vida. Mesmo que no escuro o homem confunda as coisas, esteja à mercê da mente e das paixões assim como das manifestações diabólicas, às vezes ele pode reconhecer a voz amorosa de Deus.
Os homens estão sedentos pela eternidade e são facilmente seduzidos pelos ministérios da espiritualidade, vê-se isso no consumo deslumbrado que se tem por bruxaria e poderes sobrenaturais vendidos pelos livros e filmes sobre magos e super-heróis. Mas no orgulho de querer entender e controlar tudo com a própria mente, eles continuam presos a este mundo, a esta existência, à carne. A eternidade de Deus só pode ser vivida em Deus, e para isso não é necessário morrer na carne. Através de Jesus começa-se a provar a eternidade nesta vida, já que as prioridades que o Espírito Santo nos ensina através de Cristo são valores atemporais, virtudes espirituais, os únicos bens que levaremos deste mundo para a eternidade.
Não despreze o mundo espiritual, não brinque com o mundo espiritual, não se engane sobre ele, ele existe, a sobrenaturalidade é real, mesmo que para Deus tudo seja natural, tudo seja possível. Contudo, tenha humildade para se render ao Deus de Abraão, de Israel, de José, de Moisés, de Samuel e de Davi, o pai do Cristo que viveu e morreu sem pecado, e que ressuscitou e é o único e perfeito salvador do homem.

Confia no SENHOR de todo o coração, e não no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará tuas veredas.”
Provérbios 3.5-6

14 de out. de 2014

02 - Breno

O rosto de Raimundo já estava formatado pela vida que levava a mais de trinta anos, sabia receber a todos com um sorriso, ouvir a todos com respeito, dizer quase sempre as mesmas palavras, mas palavras esperadas pelos ouvidos dos solitários, sim, porque naquela hora da noite, só os solitários frequentavam o lugar.
As reclamações que ele ouvia também não tinham mais novidades, eram sempre as mesmas, contudo, a falta de originalidade não roubava dos queixosos a legitimidade. Se o problema era falta de dinheiro, representava a privação de uma viagem para o norte, para ver os pais que não se via há meses, se o problema era traição, significava a perda da única pessoa com quem se dividia as mais profundas dores e as mais reais alegrias da vida.
Dinheiro e mulher eram os assuntos mais comuns, seguidos por futebol e política. Esses últimos, sim, entediavam o pobre Raimundo, que debaixo o uniforme do bar ficava tão elegante. Eu já o tinha encontrado durante o dia, na rua, e quase que nem o reconheci, espantou-me quando vi que aquele psicólogo detrás do balcão, que se mostrava tão paciente, enquanto tirava o café ou servia um pastel, era um homem comum, com vida própria.
- Boa noite Rai – eu disse.
- Boa noite, tudo bom seu Zé? – respondeu Raimundo.
- Cansado, cansado de fazer nada.
- Não está trabalhando?
- Estou sim, cheguei agora do Grande Hotel, toquei quatro horas de piano, minhas costas doem, meus braços, minhas mãos.
Nem percebi que Breno estava ao lado, encostado ao balcão.
- A vida é assim, só canseira – intrometeu-se na conversa Breno.
- Nem vi que você estava aí, tudo bom? – eu respondi.
- Vou levando – respondeu Breno, sem mexer a cabeça, parado que estava com os olhos fixos num ponto invisível.
Eu conhecia Breno de lá do bar, não fazia muito tempo não, era uma figura quieta, um homem com a minha idade, quase quarenta anos, magro alto, sempre bem vestido, de cabelo cortado e barba feita com uma loção pós-barba que sempre denunciava sua presença, aliás, eu a sentia antes de vê-lo.
Naquela hora da noite, o tempo não funcionava como durante o dia, quando pessoas enchiam o lugar, quando existiam casais, jovens, crianças, quando as pessoas que se acham comuns frequentavam o local. À noite era lugar para fugitivos, os sem lar, aqueles que queriam prolongar um pouco mais o dia, aqueles que não queriam um novo dia.
- Obrigado – respondi a Raimundo enquanto ele coava o café diretamente do coador para meu copo, café que nem precisava mais ser pedido, Rai sabia que era esse meu pedido no início da madrugada, às vezes eu comia alguma coisa, mas na maioria das vezes só queria o café mesmo.
- Como foi o serviço? – perguntou-me Breno.
- Destila-se toneladas de mosto para se obter pequenas porções de aguardente, e essa só me trará alguns minutos de embriaguez.
- Que vai fritar seu fígado – riu Breno da minha simbologia.
- Cada vez o prazer é menor.
- Você sempre gostou tanto de tocar seu piano.
- Sim, mas até isso tem perdido a graça – eu respondi.
Breno não estava comendo e nem bebendo nada. De calça e camisa sociais pretas, combinava comigo, eu estava de terno, gravada e camisa, todos pretos.
Acabei de tomar o café, me despedi de Raimundo e saí do bar, Breno veio comigo. Já estava virando um costume, caminhávamos juntos até a praça, sentávamos num banco e conversávamos um pouco.
- Frio hoje – disse eu, distante que estava, falei mais para mim do que para meu companheiro.
- Gosto assim – respondeu Breno.
Breno era um bom ouvinte, desses que a gente fica à vontade para desabafar, parecia um homem experiente, vivido, cheio de malícia, sempre com uma resposta de sabedoria na ponta da língua, me sentia bem com ele.
- Ainda penso nela – eu disse.
- É, elas nunca saem da nossa cabeça.
- Se as coisas tivessem sido diferentes..., eu devia ter tido mais paciência, devia tê-la ouvido mais, ela foi se afastando e eu nem percebi, quando me dei conta já era tarde.
- Ninguém aprisiona a alma de uma mulher, elas são livres, podemos possuir seus corpos, mas não seus corações, as mulheres nunca se dão por inteiras.
- Os homens não são assim, ou estão presentes de corpo e alma ou nem buscam estar junto.
- Elas dividem-se, nos enganam, mas é esse jogo, essa posse sem direito, esse ter incompleto que nos prende a elas, mas elas não fazem isso por maldade não, faz parte da natureza delas.
- E como podemos tê-las por inteiro?
- Não podemos, elas precisam ser amadas apaixonadamente sempre, e cada vez de uma nova maneira. Os homens se acostumam e se satisfazem em fazer as coisas de um mesmo jeito, elas não, os homens morrem antes do que elas, não no corpo, na alma.
- Ela se apaixonou por alguém – constatei triste.
- E você? – questionou-me Breno.
- Eu estava preocupado com minha profissão, com minha música, com minhas composições, que nunca saíram do computador, nunca consegui convencer ninguém a gravá-las. Filhos, a gente estava sempre adiando, hoje vejo que isso foi bom, se os tivesse estaria preso a ela pelo resto da vida.
- Os filhos separam os casais – disse Breno com frieza.
- Como assim? – indaguei.
- Antes deles existe romance, existe paixão, existe amor.
- Não sei, hoje vejo crianças no colo de seus pais e sinto algo bom, demorei muito tempo em minha vida para perceber as crianças, e muito mais para apreciá-las, na verdade crianças é a única coisa neste universo com sinceridade, é a única coisa que ainda me passa um sentimento bom, uma esperança.
- Esperança que dura pouco, rapidamente elas crescem e se transformam em nós – disse Breno com certo cinismo.
Não concordei com aquilo, mas fosse como fosse, família e filhos eram algo que não pertencia a mim.
- Mas eu a amei, e muito, como nunca – respondi.
- Eu acredito em você – disse Breno, olhando-me pela primeira vez naquela noite, seus olhos eram negros, profundos, pareciam dizer muito mais que suas palavras. Eu sentia algo estranho com ele, sentia-me protegido, entendido, mas também sentia medo, um medo sem explicação.
- Você já foi casado? – perguntei a ele.
- Algumas vezes – disse Breno com um sorriso sacana na boca, então se seguiu um silêncio que pareceu durar bem mais que alguns minutos.
Passei os olhos ao redor, olhei à esquerda, à direita, então larguei o olhar a minha frente. Não havia ninguém na praça, a fileiras de postes de ferro com as luminárias criavam uma estética agradável, deixavam o ar denso, aveludado. Fazia frio, mas não havia absolutamente nenhum vento, nenhum movimento. O semáforo funcionava, contudo o sinal vermelho mudou para o verde e ninguém passou. Por um instante senti-me a pessoa mais sozinha do mundo. Tantos deveriam estar em casa, muitos maridos, mesmo que sozinhos na frente de seus televisores, estariam seguros, cientes de que mulher e filhos dormiam em seus quartos, protegidos pelo lar e pela obviedade da vida normal. Vida normal, foi isso que eu busquei, foi isso que eu quis, mas não mais naquele momento.
- Boa noite, estou indo – disse Breno já em pé, a uns três passos distantes do banco, nem percebi quando ele se levantou.
- Boa noite, meu amigo.
Sentado, abri as pernas, inclinei-se, segurei a cabeça com as mãos, fechei os olhos e respirei fundo, então me levantei, olhei para o céu e desabafei:
- Deus, se você existe, me dá um sinal.
Morava perto do centro, chegava do Grande Hotel, deixava o carro em casa e ia a pé até o bar, depois voltava, devagar, pensando a cada passo, pesando em cada passo minhas agonias, tentando largá-las pelo chão, querendo aliviar minha alma. As estreitas e antigas ruas daquela cidade não cabiam minha dor, mas me consolavam, braços de uma mulher idosa, mornos, mas afetuosos, sempre disponíveis para me acalentar.
Abri o portão, subi as escadas da varanda, abri a porta da sala, liguei a lâmpada, entrei, fechei a porta, e me sentei no sofá. O controle do televisor estava no braço da poltrona, liguei e já fui abaixando o volume, queria imagens, mas não sons, o piano ainda batia em minha cabeça.
Peguei meu celular, havia uma mensagem de voz, o telefone nunca dá sinal em Águas de São Pedro, alguém deve ter me ligado enquanto eu estava lá, pensei. Liguei na caixa postal e ouvi a mensagem: “Oi, ainda lembra-se de mim? Tenho pensado muito em você ultimamente, tenho algumas novidades pra contar, se puder, me liga depois, beijo”. Era Celma, que novidades ela teria pra mim? Vai ver estava grávida do namorado, não, decidi que não queria mais nenhum contato com ela.

--------------------#--------------------

Deus sempre está atento a nossos pedidos, e sempre, sempre nos responde, de uma maneira ou de outra. Contudo, muitos de nós estamos com os ouvidos espirituais fechados, estão abertos à razão, à imaginação, aos demônios, mas não a Deus. Deus sempre fala prontamente e de maneira suave. Se tivermos atenção e temor, ouviremos, imediatamente após uma pergunta a resposta tranquila e firme de Deus nos respondendo.
A resposta de Deus é sempre maravilhosa, sempre consoladora, mesmo que seja um espera ou um não decisivo. Na resposta de Deus vemos a solução para o impossível, nosso coração sente paz onde achávamos que não havia solução, sentimos esperança, onde antes só existia angústia.
Na teimosia de querer ver as coisas resolvidas do nosso jeito, amplificamos tantas vozes dentro de nós, no meio de todo esse barulho a voz de Deus é confundida, e em nossa rebeldia só nos resta seguir sozinhos, achando que todos, inclusive Deus, esqueceu-se de nós.
A meditação e o relaxamento que psicologias e religiões orientais tanto ensinam são uma ferramenta poderosa, não para ouvir “espíritos guias” nem para curar ansiedades e fobias através da própria mente, mas para ouvir a voz do Deus verdadeiro, único e poderoso criador do universo, o médico para todas as dores e solidões.

Assim como a corça anseia pelas águas correntes, também minha alma anseia por ti, ó Deus!
Salmos 42.1

13 de out. de 2014

03 - Sábado de manhã

Na manhã seguinte acordei cedo, bem, pra quem foi dormir às três horas da madrugada, nove horas da manhã é cedo. Eu estava empolgado, mas não sabia com que, queria ver o sol do sábado sobre os rostos das pessoas. Manhãs de sábado é um luxo que músicos dificilmente têm, já que às sextas-feiras sempre se trabalha até tarde. Mas eu queria ver vida, vida brincando, vida passeando, então fui ao centro. Como não podia deixar de ser, tomei meu café de costume, que naquela hora do dia era feito pelo Célio, o Raimundo só entrava no serviço às quinze horas. Entrei calado e saí calado, bons garçons sabem entender os humores de seus clientes.
A praça estava cheia, crianças aprendendo a andar, velhos cansados de andar, jovens aprendendo a namorar, velhos que ainda não tinham se cansado disso. Quem se cansa de amar? Podemos não ter mais vontade de se deitar com alguém, mas todos nós queremos brincar, sempre. Sexo de verdade só se prova na maturidade, quando se dá valor ao processo, e não ao ato final de desaguar fluídos. Eu invejava todos aqueles, crianças, jovens, velhos, que de um jeito ou de outro simplesmente brincavam com a vida. Será que, afinal de contas, conseguimos fazer algo, além disso, nesta existência? Brincar?
- Moço, pega minha bola – chamou minha atenção um menininho de uns cinco anos de idade.
- Onde está, meu querido?
- No meio dos seus pés.
- Ah, desculpe-me, nem percebi.
Peguei a bola, olhei para ela e a rolei bem devagar na frente do garoto. Ele saiu correndo, chutando a bola que logo em seguida foi parar embaixo de outro banco onde um casal estava sentado. É, a bola estava entre meus pés e eu não notei. Eu estava ocupado estudando, querendo ser o primeiro aluno da classe. Eu estava ocupado praticando piano, querendo bater o recorde mundial de velocidade de execução daqueles exercícios de Hanon. Eu estava ocupado lendo Nitzsche, assistindo Bergman e ouvindo Stravinski. Eu estava ocupado criando um personagem erudito, sisudo, enquanto a vida passava por mim como uma criança descalça, jogando futebol, lendo gibis, ouvindo samba e comendo goiaba em cima da árvore.
A criança ensolarada que fui teve seus momentos, mas o adulto cinza foi mais forte, eclipsou a inocência, roubou-me a simplicidade, a alegria. Toda aquela exposição gratuita de felicidade daquela praça me incomodava, como um raio de sol que invade um quarto fechado através da fresta de uma janela, acertando em cheio o corpo que se abre para o dia, mas com a alma ainda presa à noite. Eu era um refém da noite, amava a noite, nas sombras eu me sentia bem, amedrontado, mas acompanhado. Naquele banco de praça, eu me abstinha da realidade, tudo ficava nevoado, eu embaçava o mundo exterior para achar sentido para a minha alma tão distante. Debaixo dessa neblina nem percebi quando uma mulher sentou-se ao meu lado.
- O sol está quente hoje – disse ela, sem me olhar.
- Para um final de junho até que está quente – respondi, acordando de meu transe.
- Tenho pressão baixa, não gosto do calor.
- Entendo.
Era uma mulata, com um pouco mais de cinquenta anos, bonita de rosto, com o corpo acima do peso. Sua voz me passava o vigor de uma pessoa que já lutou e sofreu muito, mas que ainda sonha com a vida. Ela ficou alguns minutos ao meu lado, então voltou a falar.
- Bom, já deu pra descansar, preciso pegar meu ônibus.
- Boa sorte.
- Ela me olhou e sorriu, aquilo entrou em mim e me abriu, eu não tive outra saída senão sorrir. Algumas pessoas tem essa capacidade, de plantar no deserto de nossa desilusão uma bela flor de esperança.
Numa primeira olhada, num primeiro contato, não conhecemos os corações das pessoas, vemos antes de tudo seus rostos. Muitas vezes os corações estão pedindo por socorro aos berros, implorando por companhia, enquanto que os rostos dizem taxativamente “não se aproxime de mim, quero ficar só”.
Em minha frente, sentados num banco, havia um casal. A moça deveria ter vinte e poucos anos, o homem mais de trinta. Ela olhava para o lado direito, enquanto ele, sentado de lado no banco, falava-lhe ao ouvido. Ele sorria, ela estava séria, ele tentava convencê-la de algo, ela resistia, ele a pegava pela cintura, ela tentava se livrar de seus braços. Era a luta do macho, pedindo um sim, e da fêmea, dizendo que não, mas querendo, sim. Por que as pessoas não são honestas? Por que elas não dizem aquilo que realmente querem? Talvez porque elas não saibam o que querem, e não sabem, não porque não conhecem, mas porque têm medo do que sentem, acham que aquilo, por algum motivo, não está certo.
Passamos grande parte do tempo de nossas vidas assim, querendo algo, e sentindo-nos culpados por querer isso, depois, quando a culpa se gasta, quando a sensibilidade esfria e então estamos dispostos a fazer qualquer coisa, a paixão foge de nós e já não há mais prazer. O prazer é filho da paixão, que concebe quando se relaciona com um coração jovem, sensível, mas repleto de culpa. Somos essencialmente e naturalmente uma armadilha para nós mesmos, uma equação sem solução, e isso fica mais claro e mais dolorido à medida que nos afastamos dos outros. A solidão, ao mesmo tempo que nos revela, nos enclausura, isso porque nos confronta com a única pessoa que nunca realmente entenderemos nesta vida, nós mesmos.
Viver a dois deve ser, no mínimo, uma brincadeira a quatro mãos onde se finge acreditar que o objeto amado é perfeito, já que é isso que se ocorre na paixão. Essa perfeição é creditada não porque não se conhece os defeitos do amado, mas porque esses defeitos são relevados, faz-se vistas grossas para eles por se amar. Tendo alguém ao seu lado que te ama, que sobressalta suas qualidades, que enaltece suas virtudes, e esquece, ou pelo menos finge esquecer, de seus defeitos, é a única maneira de escapar da armadilha que nós armamos para nós mesmos.
Levantei-me, cansado de mim mesmo, cansado do sol, cansado de estar cansado. Desci a rua da esquerda da praça e fui em direção ao ponto onde se concentra os camelôs da cidade, sempre tem alguma novidade tecnológica sendo vendida, esse comércio me entretém por alguns momentos. O terminal de ônibus e o mercadão, como na maioria das cidades, também fica nessa região. Não tem lugar que a gente se sente mais gente do que nessa região do mercadão, shopping centers não possuem esse charme, um charme simplório, de aromas diversos, nem todos bons, com gente ansiosa para consumir nada que custe mais que alguns reais. Nesse lugar a felicidade por ser comprada por um e noventa e nove, e ainda sobre troco para um pastel com caldo de cana.
No meio daquela gente que vinha e ia por todos os lados, inclusive de cima e de baixo, uma aglomeração um pouco maior que a normal se formava a minha frente, pensei, deve ser o “homem da cobra” ou algum pregador ensandecido. Desviei-me pela esquerda, contudo, quando passei os olhos vi, entre um motorista de ônibus e uma mãe com um bebê no colo, o centro da roda. Parei e aproveitando a brecha que havia entre o homem e a mulher, pude ver com clareza o que acontecia.
Uma moça, com jaleco branco, apertava pausadamente o peito de uma mulher deitada no chão, eram exercícios de ressuscitação tentando reanimar alguém que havia tido uma parada cardíaca. Minha atenção inicial foi para o movimento desesperado da moça, mas depois de alguns instantes pude ver o rosto da mulher caída. Era aquela senhora que tinha se sentado ao meu lado no banco da praça. Naquele momento o meu coração apertou e subiram aos meus olhos um gosto amargo que amarrou meu semblante, eu me assustei.
Em seguida chegaram os paramédicos com uma maca, eles pegaram a mulher e a levaram para uma ambulância parada no estacionamento do mercadão. Todavia, passada e rendida, a moça de jaleco suspirou as palavras: “o coração parou, eu não consegui, ela se foi”. Mais alguns minutos e a roda se desfez, eu fiquei lá, congelado, acompanhando com os olhos a moça de jaleco desaparecer lentamente na multidão.
A lua se pôs sobre o sábado, eu voltei a minha noite, no escuro de minha alma dei meia volta e fui para casa, não, nenhum prazer bobo de comprar uma bugiganga eletrônica tiraria de mim aquele clima depressivo. Cheguei em casa, fiz um lanche frio e voltei para a cama, à noite o Grande Hotel novamente me aguardava para uma apresentação de piano, mas não sei porque, Breno apareceu em minha mente. Eu o via de negro, rindo, ao lado do corpo da mulher morta, ele ria e olhava pra mim, e aquilo, de alguma maneira, consolou-me, me mostrou uma saída.
Aquela experiência me colocou de frente com a morte e essa não me pareceu tão ruim.

--------------------#--------------------

Ó SENHOR, agora tira-me a vida, pois, para mim, morrer é melhor que viver. O SENHOR respondeu: É razoável essa tua ira?.”
Jonas 4.3-4

Morre-se antes do tempo, e muitas vezes, se mata outras tantas, não a carne, mas a alma, isso quando se priva o ser humano de seus tempos. A criança que não se deixar brincar, o jovem que se impede de sonhar, o adulto que não tem direito a se apaixonar.
A melhor brincadeira é a mais simples, nos braços da natureza, na grama, na terra, na água, com o ar limpo e as pernas e braços livres pra correr, isso traz alegria ao coração e expande a mente.
Temos liberdade de sonhar ao lado de amigos, procurando e encontrando o amor de nossas vidas, exercendo uma profissão que entregue as pessoas o nosso melhor, criando filhos, nosso maior legado, que perpetuarão nossas virtudes, nossa missão de mudar o mundo para melhor.
Manter um coração apaixonável é missão do espírito livre, a paixão que transforma sonhos em realidade é remédio para as enfermidades, é ela que torna a vida encarnada eterna, já que se vive a eternidade já neste mundo.
Se a vida só existe em Deus, somente Deus em nós é que nos faz vivos, “penso logo existo”, diz o filósofo, mas só em Deus conseguimos pensar de maneira lúcida, só em Deus nos conhecemos e aos outros. Sem Deus é trevas, se caminha sem rumo, se cai e nem se percebe, machuca-se a si mesmo e aos outros e nem se sente.

12 de out. de 2014

04 - Cano do revólver

Chovia naquela noite e a temperatura tinha caído bastante, era uma noite perfeita para se estar em casa com uma mulher carinhosa, mas eu estava lá, tomando o café da madrugada.
Em Águas de São Pedro só tinha velhos, não era feriado, então somente os aposentados com tempo livre estavam hospedados no Grande Hotel. Esses tinham sido a plateia de minha noite, na maior parte das vezes eram bons espectadores, são de uma geração que conhece boa música e respeitam músicos. Então aplaudem com facilidade, fazem pedidos, participam da apresentação. Apesar de milionários, esse era sempre o perfil dos hóspedes do Grande Hotel Senac de Águas, eram humildes e sabiam respeitar arte e artistas.
O mesmo, porém, não se podia dizer de seus herdeiros, filhos e netos mimados por uma riqueza que eles não produziram e que gastavam facilmente sem saber realmente quanto trabalho e tempo tinha custado para alguém. Mas enfim, músico é pago para fazer música, não podemos nos importar para quem fazemos e nem o que fazemos. Repertório e público é algo que músico profissional não pode ligar, tem que tocar aquilo que as pessoas querem ouvir e pronto.
O bar estava vazio, Raimundo lavava copos, me encostei ao balcão, cumprimentei-o e esperei o café. Breno tomou a iniciativa de falar comigo, não o vi chegar.
- Cansado? – disse ele.
- Bastante – resmunguei, olhando para ele.
- Você precisa de diversão.
- Músico não tem direito a isso, já que todos dizem que já trabalhamos com diversão, mas acaba sendo um serviço como todos os outros, na verdade é até pior, nós é sonegado o direito de nos divertirmos com a música. Depois de tocar por quatro horas, em duas noites seguidas, o que mais queremos é silêncio. Outros, chegariam em casa e colocariam um CD preferido pra tocar e relaxariam, eu estou com a alma exausta de produzir harmonias, dominar ritmos, ler notas, movimentas as teclas. Vou dormir e a “Garota” do Tom ainda continua soando na minha cabeça.
- Uma mulher experiente pode diverti-lo, uma partida de futebol com os amigos, ir ao cinema...
- Não tenho paciência pra mais nada.
- Festa de aniversário de criança, bolo de chocolate com morangos, brigadeiros, refrigerante, overdose de açúcar – disse Breno abrindo uma gargalhada irônica.
- Casais fingindo que a vida é perfeita, vinte pessoas entupindo uma sala de estar que só cabe meia dúzia, privacidade resumida a zero, você é obrigado a rir de piadas velhas, – eu respondi ponto pra fora toca a minha decepção com a vida – você é casado Breno? – emendei uma pergunta.
- As melhores coisas da vida são as mais simples – respondeu ele outra pergunta que não foi a última que eu fiz.
- Acho que preciso de prazeres artificiais, mais elaborados.
- Conheço um traficante que pode te vender algumas gramas de felicidade – disse ele dentro de sua camisa preta de cetim que brilhava de uma maneira excepcional naquela noite.
- Não, eu passo, – respondi sorrindo – nunca entrei nessa, já tentei fumar um baseado, mas engasguei até e não senti nenhum barato.
- Você é um músico diferente, a sua galera geralmente cheira muito, fuma muito.
- Viajo muito mais lúcido, nem álcool tenho bebido mais, parece que nada faz efeito, só não dispenso o café.
Nossa conversa foi interrompida com a entrada de um homem no bar, ele vestia capacete de motoqueiro e tinha na mão um revolver.
- Todo mundo quieto, passem o dinheiro – dizia o ladrão enquanto apontava a arma para a moça do caixa que tirava o dinheiro das gavetas e jogava no balcão.
Eu travei, fixei os olhos nele e permaneci imóvel, desobedeci uma das orientações que dão aos que enfrentam essa situação, de nunca encarar o bandido.
- Você está olhando o quê? – me disse o ladrão, eu permaneci calado.
Debaixo da viseira do capacete podia-se discernir o brilho dos olhos do marginal, um brilho terrível de quem não dá nenhum valor para a vida, então ele repetiu.
- Está olhando o quê? – naquele momento eu me senti absolutamente sozinho no lugar, eu o encarava, mas a minha visão periférica, ofuscada, não via mais ninguém, fosse o Raimundo, Breno ou a moça do caixa. Por um segundo eu me vi acima daquele lugar, fora de mim e dentro de mim ao mesmo tempo, como num sonho. Aquele filminho que dizem que se passa na nossa frente quando estamos próximos da morte, pois bem, ele não passou pra mim. Eu não vi passado, não achei presente, apenas me dei ao direito da possibilidade de um futuro que até agora eu não tinha pensado.
- Você quer morrer cara? – as três chamadas que ele me fez foram muito rápidas, uma atrás da outra, isso é, foram rápidas para os outros, para mim pareceram durar uma noite inteira, então ele atirou, bem, o revólver está com o cano grudado na minha testa, eu ouvi com clareza o gatilho sendo apertado.
- Morre... – mas eu não morri, alguém, em algum lugar fez com que a arma falhasse, não somente uma vez, mas duas, já que ele tornou a atirar. Sem balas ele bateu com a arma na minha cabeça, eu ainda consegui vê-lo saindo correndo, mas depois só fui ver novamente a moça do caixa, passando um pano molhado e frio em minha cabeça, eu estava sentando num cadeira com o Raimundo e um dos cozinheiros do bar ao me lado.
- O que é que aconteceu?
- O cara bateu em você e vazou, você desmaiou – disse Raimundo
- A arma, eu o ouvi atirando.
- É meu amigo, você nasceu de novo, o revólver falhou, duas vezes – me respondeu Rai com seu sorriso carinhoso.
Ainda fiquei sentado por alguns minutos, esperando a zonzeira passar, tinha um galo enorme na cabeça, mas não tinha sangrado.
- Acho que vou indo.
- Tem certeza de que não quer ir a um pronto-socorro? – disse a moça.
- Acho que estou bem.
- É bom tirar uma chapa, pra ver se não quebrou nada. – reinterou Raimundo.
- Tenho cabeça dura, é mais provável que tenha trincado o revólver – respondi enquanto me levantava. Breno não estava por lá.
A rua estava coberta de névoa, a chuva tinha parado, mas eu sentia o ar molhado e frio. Como de costume seguia a pé pra casa, já tinha deixado meu carro por lá antes de vir ao bar. Passei pela praça, mas pude ver, sentado sozinho num banco, no meio da praça, Breno, que baforava tranquilamente a fumaça de uma cigarro. Ele estava longe, mas mesmo assim o brilho de sua camisa negra de cetim realçava, parece que o nevoeiro nem o tocava.
Tive vontade de me aproximar dele, dei alguns passos, mas parecia que algo me segurava, mesmo os passos que dei não me levaram mais perto dele, ao contrário, Breno me pareceu estar ainda mais longe, mais ofuscado pela névoa. Mas não era somente minhas pernas, que pareciam não me levar aonde eu queria, meu coração estava apertado, me sentia como naqueles sonhos onde a gente vê o quarto, ao redor da cama, parecendo-nos que estamos acordados, contudo não conseguimos abrir os olhos e nos levantar. Eu desisti, dei meia-volta e fui para casa.
Cheguei em casa e liguei o televisor, passava um filme de ficção científica, desses de viagem no tempo, o nome era “Looper” e o protagonista, Bruce Willis. O filme falava sobre assassinos pagos para matar alguém que vem do futuro, enviados ao passado por meio de uma máquina do tempo. Dessa forma, no tempo presente da vítima o crime seria ocultado. Contudo, o feitiço vira contra o feiticeiro para o protagonista, já que num determinado momento é enviado para ser morto por ele, ele mesmo. Junto dele meso, uma quantidade considerável de barras de prata é mandada, se ele aceitar a missão e matar a si mesmo, poderá viver trinta anos gozando a boa vida adquirida pelas barras de prata, mas consciente que depois desse tempo ele seria enviado ao passado para ser morto por ele mesmo. O protagonista nega-se a se matar, ele quer quebrar o “loop”, mas se agir assim será morto no passado, pela organização que administra os crimes, e obviamente não terá futuro.
Como toda história de viagem no tempo, existem situações que não são possíveis, mas a ideia do filme me fez pensar. Você morre, ninguém leva a culpa pela morte, e nem mesmo você já que mata alguém do futuro que você nem conhece. Além disso ganha um tempo considerável de vida com muito dinheiro pra gastar. Naquele momento achei que eu já tinha vivido o suficiente, que era por isso que nada mais parecia ter graça pra mim, pensei que talvez fosse o tempo de eu partir deste mundo.

--------------------#--------------------

A morte legítima se merece quando não a queremos, ela deveria nos ser concedida quando concluímos que a melhor coisa que existe é viver, e viver com Deus. Obviamente, muita gente, no livre arbítrio que lhes é dado, vive e vive e não aprende a maior lição da existência encarnada. Assim, passa-se seu tempo, elas precisam partir, e morrem do jeito errado, sem Deus.
As maiores bênçãos que provamos de Deus são aquelas que nunca ficamos sabendo de suas existências, não nesta vida pelo menos. Elas são grandes justamente porque se soubéssemos delas elas perderiam o valor. Que bênçãos são? Os livramentos que Deus nos dá de mortes antes do tempo certo. Elas não seriam tão benção porque se soubéssemos delas ficaríamos traumatizados, mesmo que livres do fim, então Deus nos poupa, duas vezes, da morte e do trauma dela.
Mas as mortes que sofremos antes do tempo são aquelas provadas voluntariamente por nós mesmos, quando nos colocamos em situações de risco. Dirigir um carro acima do limite, beber bebida alcoólica sem moderação, fumar, assim como guardar rancor, represar ansiedades, não aceitar os próprios limites, dores psicológicas que se transformam em enfermidades do corpo.
Se conseguíssemos viver toda uma vida em intimidade com Deus, a morte seria simplesmente dormir no copo e acordar no céu, como as mortes que o profeta Elias e Enoque tiveram, sem dor, sem trauma, em plena paz.

Enquanto eles estavam caminhando e conversando, um carro de fogo, com cavalos de fogo, separou-os um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho.” (II Reis 2.11)

“Enoque andou com Deus até que não foi mais visto, porque Deus o havia tomado.” (Gênesis 5.24)

11 de out. de 2014

05 - Invenção a três vozes

Uma nota grave, a vibração de uma corda grossa, soa em nossas mentes quando estamos no silêncio de fim de noite, tentando nos desvencilhar de nós mesmos, procurando dormir. É o primeiro lá do piano, um tom baixo, mas pianíssimo, que já foi sétimo dó, agudo e fortíssimo, que incomodava-nos o dia todo. Agora é uma lembrança menor, dói menos, a tensão da corda da alma foi diminuída.
Uma melodia de lembranças toca dentro de nós, notas diferentes, variações de alturas, timbres e volumes, às vezes ela faz sentido. Então somos acalentados por uma sonoridade original. Cada um de nós pode compô-la, mas somente nós podemos ouvi-la, nós e Deus. Essa melodia é a trilha sonora de nossa vida, que entrega poesia à existência mais solitária e esquecida, todos nós temos uma canção dentro de nós.
Casar-se é harmonizar nossa melodia com outra, numa exclusividade que somente o verdadeiro amor permite, já que naturalmente, como sátiros gregos, queremos tocar nossas flautas livremente pelos bosques, seduzindo ninfas diversas, sem pertencer, contudo, a nenhuma delas.
É magia pura arranjar duas melodias distintas para formar uma música de duas vozes, como numa Invenção de Bach, contrapondo e se apoiando, ao mesmo tempo, entrelaçando, sem que uma seja mais importante que a outra. Fica muito mais bela uma música com duas vozes, com dois instrumentos, duas almas.
Naquela noite, no Grande Hotel, o repertório caminhava suavemente, as passagens entre uma música e outra parecia acontecer com naturalidade, levando os ouvintes a uma experiência tranquila, suscitando lembranças e sentimentos com ternura, devagar.
Aplaudiam quase que durante todo o tempo, uma noite especial, mas adequada a um público de quase quarenta anos para mais, um público maduro, gente que já tinha passado, que já tinha memórias. O bloco que eu tocava era uma seleção de música de cinema, testemunhas de momentos importantes de muitas vidas.
Um senhor estava em pé ao meu lado, já desde o começo da música que tocava, “Somewhere in time” de John Barry, tema do filme “Em algum lugar do passado”. Essa é uma peça que sempre agrada às pessoas, elas dizem que o Grande Hotel se parece com o hotel do filme, mesmo que o do filme estivesse na frente do mar. Quando acabei de tocar o homem começou a falar comigo.
- Este piano é bom? – disse ele.
- É um Bechstein bem conservado, um bom piano de armário – respondi com a voz baixa e cerimoniosa.
- Eu tenho um Steinway & Sons – disse ele com um largo sorriso na boca.
- Top, esse sim – respondi com admiração.
- Comprei em Nova York, lá tinha vários modelos pra gente tocar e escolher, importei por cento e vinte mil reais -  respondeu ele realizado.
- O senhor deve tocar muito bem – perguntei com seriedade.
- Muito pouco – disse o velho sem dar muita importância.
Bem, ele tinha conseguido seu intento, expor seu poder aquisitivo, não, aquele povo não fazia isso por mal, na verdade aqueles com posses há mais tempo, por gerações anteriores, nem se davam mais a esse trabalho. Esses já tinham se entediado com as coisas materiais que o dinheiro pode comprar, agora queriam cultura e arte.
No caso daquele advogado aposentado, herdeiro de terras e imóveis adquiridos pelo pai e o avo no começo do século XX, ele se sentia muito bem ouvindo sua própria voz listar os bens que colecionava, sim, porque quando já se tem tudo o que se precisa para viver bem, passa-se então a colecionar, repetir o que se possui, de marcar, tamanhos, cores e procedências diferentes.
Pra mim, que sou pianista, ele falou sobre o Steinway que possuía, para outro ele poderia falar sobre o Porsche, a Ferrari ou a Maserati. A ostentação daquele senhor não era intimidadora, ele não usava o que tinha para humilhar os outros, mas para se valorizar. Fiquei imaginando-me numa loja de pianos no exterior, onde se tem muito e bons instrumentos disponíveis para serem tocados e admirados.
Toco das dezenove às vinte e três horas, mas no meio, às vinte e uma horas, os hóspedes entram no restaurante principal para jantar então o bar fica quase que vazio. Desta vez a única exceção foi uma senhora, pouca coisa mais velha do que eu, que os cosméticos caros, produtos de beleza e uma vida cheia de confortos fazia parecer que tinha menos idade do que eu.
Na verdade eu não a percebi, durante as duas horas iniciais que toquei, ela estava bem atrás de mim. Como fico de costas para as mesas, uma posição bem deselegante, mas aquela que a gerência prefere que o pianista se coloque, não a tinha visto. Quando a sala ficou vazia, notei, quando terminei de tocar “The way we were”, cantada por Barbra Streisand no filme com o mesmo nome, um aplauso solitário, então olhei para trás e a vi. Ela se levantou e veio falar comigo.
- Obrigado por tocar esta música – disse-me ela com um brilho emocionado nos olhos.
- Eu é que agradeço por seus bons ouvidos – eu tentava, mas não conseguia ficar distante daquela gente, sempre era traído pelo coração, principalmente quando alguém transbordante de emoção me elogiava.
- Essa música marcou a minha vida, meu primeiro encontro com meu marido foi assistindo esse filme – ela olhou para baixo e com um sentimento profundo de tristeza contida que somente mulheres bem educadas e sensíveis têm me falou. Ela não parecia estar ali, pertencer àquele momento, ela estava distante, num outro lugar, num outro tempo.
- Barbra e Redford, filme de Sydney Pollack, canção maravilhosa, uma de minhas preferidas – respondi consciente de que nenhuma sinceridade minha seria suficiente para tratar com elegância àquela dama tão refinada.
- Ele morreu há três anos, de câncer, meu marido – meu Deus, eu desmoronei, rendido, meus olhos aguaram, meu coração se derramou, não sabia o que falar, ela me ajudou.
- Já estávamos nos preparando para isso há algum tempo, sua doença era na cabeça, não tinha cura. É difícil, mas a vida segue, neste hotel, contudo, parece que o tempo para – era exatamente o que eu sentia naquele lugar.
Ela me estendeu a mão, eu me levantei, apertei sua mão com minhas duas mãos e em silêncio ela se retirou. Parado, ao lado do piano, olhei-a até que ela entrou no restaurante. Aquele piso de grandes ladrilhos brancos e pretos, posicionados diagonalmente, embaralharam minha visão, sentei-me meio zonzo, aproveitei para dar um intervalo e tomar um café.
Pedi um café, encostei-me ao balcão e tomei, o garçom que me serviu entrou na salinha reservada do bar, provavelmente para beber o resto de vinho que tinha sobrado em uma garrafa. Olhei para a esquerda e vi o jardim de inverno vazio. Olhei para a direita e não havia nenhum funcionário na recepção. Na porta do restaurante também não havia ninguém. Eu apenas ouvia um ruído distante de gente conversando, que parecia não vir do restaurante, mas de um lugar bem mais distante. Era um som grave e baixo que batia nas paredes de minha memória ecoando meu passado.
Lembrei-me das meninas por quem me apaixonei. Lembrei-me daquele sentimento único que se tem com dezessete anos quando se declara para uma mulher que se gosta dela. Só o dizer das palavras já nos enche de prazer, um prazer misturado com medo, um medo que nos enche de coragem, uma coragem que nos deixa prontos para nada, já que seja qualquer for a resposta da mulher, já estaremos felizes só por dizer a ela o que sentimos. Amor platônico é assim mesmo, dura enquanto não o verbalizamos à pessoa amada, depois da declaração ele desaparece, como tem que ser, ele só pode existir na ilusão.
Aquela senhora era uma menina apaixonada, experimentava um amor platônico às avessas, que podia ser sentido, mas não realizado, não mais. Seu amante não tinha mais corpo, agora era alma, ausente do mundo, mas presente em seu coração. O que é mais presente que alguém que ainda se ama? Ele se foi, mas ficou o afeto. A saudade é o que existe de mais real, eterniza algo tão humanos e finitos, nossos sentimentos.
 Saudade não é a ausência, mas a presença, já que se algo tivesse realmente ido embora não estaria mais presente no coração como saudade. Aquela senhora, tão nobre que me pareceu, esforçava-se para harmonizar a melodia de sua alma com a saudade, uma melodia que se enfraquece com o tempo tanto quanto faz aumentar a dor. A dor da saudade reside no fato de se tentar manter vivo algo que morre, mais e mais com o tempo. A impotência de manter vivo algo que só existe no coração, um fadeout infinito de uma melodia única que já nos fez dançar de alegria um dia, é a maior dor que provamos nesta existência, a saudade.

--------------------#--------------------

Uma melodia maior, universal, que pode ser conhecida de todos e mesmo assim manter originalidade, um mistério que as regras da estética não entendem, é Deus essa melódica. Ela harmoniza com qualquer alma, forma uma sinfonia maravilhosa com qualquer melodia, seja ela a mais simples que existir, sem cromatismos ou requintes timbrísticos. A humildade de Deus reside no fato de que através de Jesus, o Senhor de tudo e criador de todos, ele se compartilha com os homens, orgulhosos, ingratos e infiéis como são.
A voz de Deus soa como uma nota agradável, nem baixa, nem alta, acessível sempre, que tem o poder enarmonizar todos os seres com sua simpatia. Na frequência de Deus todos vibramos de forma graciosa e equilibrada. Mas não se enganem os que não querem o privilégio de ter uma experiência com um Deus pessoal que sente como um pai, age como um pastor e disciplina como um juiz. Deus não é uma energia positiva, impessoal e distante, presente nas criaturas, na natureza e nos astros. Quem é Deus? Jesus, verbo, é a definição de Deus e de sua iniciativa em redimir o homem.

“quando tocaram as trombetas em uníssono e cantaram para serem ouvidos, louvando o SENHOR e dando-lhe graças, e quando levantaram a voz com trombetas, címbalos e outros instrumentos de música, e louvaram o SENHOR, cantando: Porque ele é bom, porque o seu amor dura para sempre; então uma nuvem encheu o templo do SENHOR”
II Crônicas 5.13